segunda-feira, 17 de setembro de 2007

"Poema Azul"



Eu hoje estou azul! Nas minhas mãos nervosas
Os dedos são azuis, longos e delicados.
O perfume é azul nas pérolas de rosas
Como o sumo é azul nos frutos sazonados.

Azul sem dimensão, do polo Norte ao Sul,
Cai nas águas do mar, nas distâncias sem fim,
E eu toda me deslumbro olhando o intenso azul
- Que na curva do Céu, nunca houve um azul assim.
O mundo, em derredor, em doida convulsão,
lateja o mesmo tom em tom mais destemido.
Até a própria noite ainda em formação
Tem um nítido gosto a azul inconcebido.
Do mais sombrio vale à serra mais erguida,
Alagando extensões e seares e pauis,
A estrebuchar de cor, é azulada a vida,
Porque o tempo, do azul, faz as horas azuis
O azul impõe-se, alastra, exorbita-se, é rei:
Transborda cada vaga, inunda cada palma...
De tudo ser azul (tão azul:) eu nem sei
Se o meu corpo é azul ou se é azul minha alma.

Bem no fundo de mim, num azul em demência
Que se alteia em cachões hora a hora mais loucos,
Esta saudade enorme e que é negra de ausência,
Dentro do coração vai azulando aos poucos.
Porque a cor é mais cor e subjuga de excesso,
Há pedaços de Céu desfolhados nos charcos
E nos cais pedra-azul, quando a hora é de regresso,
tem um quê de azulino a chegada dos barcos.
Azul pelos desvãos, em todas as alturas...
Não há sítio nenhum onde se não concentre.
De tudo ser azul, até as mães futuras
Setem gestos azuis a germinar no ventre.
Vão-se tornando azuis as verdades e os sonhos
Sem pedir a ninguém licença nem conselho...
No corpo do pomar, a carne dos medronhos
Tem um sabor azul que se tornou vermelho.
Azul que se distende ao longo do jardim;
Que vive na raiz e em cor se realizou.

Um azul tão azul, que nunca terá fim,
Como, de tão azul, nunca principiou.
Azul do abismo fundo à cor dos Infinitos
Sem o deter ninguém, sem nada que o anule.
Azul os mundos e eu e os santos e os malditos,
Azul sempre maior, em turbilhões, aos gritos,
Azul o próprio Deus que fez o azul, azul.


(Resposta de Maria Helena ao Poema de JG de Araujo Jorge do livro "De Mãos Dadas" 1ª edição 1961.)

9 comentários:

Anónimo disse...

"...Um pássaro de fuligem do pincel cai
De asas abertas inesperado livre vai..."

Desejos de uma boa semana .

avelaneiraflorida disse...

Amiga Fátima,

Que bom todo este azul!
Depois de um dia intenso, chego aqui e mergulho neste imenso azul...

"BRIGADOS"!!!!
Bjks

Fátima disse...

barão van blogh,

Que bonito comentário!
Obrigada pela visita

:-)

boa semana.

Fátima disse...

amiga avelaneiraflorida,

É o azul que rege a imensidão da minha vida...

:-)
Beijinhos

O Profeta disse...

Hoje descobri que eras um pássaro azul...

Hoje decidi recolher os sussurros da noite
Juntar em alquimia uma lágrima de alegria
Que meu coração recolheu dos teus olhos
E transformou em doce poesia


Boa semana

Mágico beijo

Anónimo disse...

AZUL tranquilidade...

Beijo e bom fim de semana

Fátima disse...

Amigo profeta!
Sempre bom receber a visita dos amigos.

Bom Fim-de-Semana!

Mágico beijo

Fátima disse...

Amiga murmurios!

Tranquilidade e muita paz!

Beijo Bom fim-de-semanna

papagueno disse...

Bela imagem, conheço esse rio de algum lado.
Beijocas