sábado, 29 de março de 2008

AR LIVRE

pasarlascanutas
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!

Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!

Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido na inspiração!

Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe,
Desligado do cordão!

Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!

Miguel Torga
Visão JL

6 comentários:

Odele Souza disse...

Olá Fátima,

Gostei de ler este poema de Miguel Torga.

Um beijo e bom fim de semana.

avelaneiraflorida disse...

Querida Fátima,

TORGA!!!! é ar puro!!!!!
Brigados!!!

bjkas!!!

oceanus disse...

...Miguel Torga que magnífica escolha...e ar puro é o que todos mais necessitamos.

bjs do fundo do Oceanus

papagueno disse...

Linda como sempre a poesia do Torga.
Bjks

Oliver Pickwick disse...

O velho mestre era um visionário, quando nem se falava ainda em ecologia e preservação do meio ambiente, ele soube muito bem deixar a sua mensagem.
Ótima escolha.
Beijos!

Klatuu o embuçado disse...

Um grande senhor.